segunda-feira, 29 de junho de 2009

Teoria geral do Jornalismo

A primeira obrigação do jornalismo é com a verdade. Mas o que é a verdade? De acordo com Marilena Chaui (2003, p. 58) nossa idéia da verdade foi construída a partir de três concepções diferentes vindas da língua grega, latina e hebraica.

Em grego, verdade se diz aletheia, significando o não-oculto, que se opõe ao falso, pseudos, que é o escondido. Portanto, a verdade depende de que a realidade se manifeste, enquanto a falsidade depende de que ela se esconda em aparências. Em latim, verdade se diz veritas e se refere à exatidão de um relato não as próprias coisas e aos próprios fatos. Os relatos e enunciados sobre os fatos é que são verdadeiros ou falsos. Em hebraico, verdade se diz emunah e significa confiança. Emunah é uma palavra da mesma origem que amém, que significa assim seja. Portanto, a forma mais elevada da verdade é a revelação divina e sua expressão mais perfeita é a profecia.

Aletheia se refere ao que as coisas são; veritas se refere aos fatos que foram; emunah se refere às ações e coisas que serão. A nossa concepção da verdade é uma síntese dessas três fontes e por isso se refere às coisas presentes (como na aletheia), aos fatos passados e à linguagem (como na veritas) e as coisas futuras (como na emunah). Também se refere à própria realidade (como na aletheia), à linguagem (como na veritas) e à confiança-esperança (como na emunah). (CHAUI, 2003, p. 38)

Usamos todos os dias as palavras verdade e mentira, exato e falso como se elas significassem alguma coisa. A verdade cria uma sensação de segurança que se origina da percepção dos fatos e está na essência das notícias. A promessa de veracidade e precisão se tornou uma parte poderosa do marketing jornalístico. Até certo nível filosófico é interessante o argumento de que não existe verdade, considerando-se que somos seres subjetivos. Porém, a verdade sempre aparece como parte essencial e indispensável da profissão, mesmo que alguns profissionais desconheçam a sua noção clara.

De acordo com Kovach e Rosenstiel (2004, p. 68) a verdade jornalística é muito mais do que simples precisão e o que o jornalismo procura é uma forma prática e funcional da verdade. Não a verdade no sentido absoluto ou filosófico, nem a verdade como em uma equação química, mas a verdade num sentido por meio do qual possamos funcionar diariamente.

Esses conceitos começam a ser observados e estudados por Walter Lippmann em 1920. Nesse período, Lippmann usa de forma alternada os termos verdade e notícias no ensaio “Liberty and the news”. Mas em 1922, no seu livro “Public Opinion”, ele escreveu: Notícias e verdade não são a mesma coisa... A função das notícias é sinalizar um fato, ou tornar o público ciente desse fato. A função da verdade é trazer à luz os fatos ocultos, estabelecer uma relação entre eles e montar um quadro da realidade sobre o qual os homens podem agir. Por volta de 1938, os livros didáticos de jornalismo começavam a questionar quão verdadeiras podiam ser as notícias. (KOVACH e ROSENSTIEL, 2004, p. 64 e 65).

Em pesquisa realizada com alunos do curso de Jornalismo da Faculdade de Ciências Humanas, Exatas e Letras de Rondônia – Faro no dia 15 de setembro de 2008 com 69,23% dos acadêmicos entrevistados foi constatado que apenas 44,44% dos acadêmicos lêem jornal diariamente. Entre os que lêem sempre a página de polícia do O Estadão do Norte (11,11%) ninguém acredita que a página é sempre feita de acordo com os princípios éticos do jornalismo. A maioria 66,66% acredita que raramente a página é escrita de forma ética, 16,66% frequentemente e 16,66% nunca. Segundo Claude-Jean Bertrand (1999, p.58) Uma das regras fundamentais do jornalismo é não mentir. No entanto, o mesmo autor afirma que de acordo com pesquisas o público tem o sentimento de ser enganado, explorado pela mídia.

Existem muitas formas de ludibriar o público sem ter que necessariamente mentir. Empregar termos sem os definir, utilizar mal as estatísticas, simplificar questões complexas, apresentar hipóteses como fatos comprovados, generalizar a partir de alguns exemplos e tirar conclusões injustificadas são alguns exemplos. Para Felipe Pena (2005) existem três tipos de mentiras: Mentiras, mentiras hediondas e estatísticas. Para ele, tirar conclusões com base em números é uma das formas mais simplistas de aplicar o conceito de objetividade.
O direito de o público saber a verdade é muito discutido entre os teóricos da comunicação. Sobre o direito a veracidade da informação Niceto Blázquez (1999) afirma:

Informar é acima de tudo um dever, e o fato de sermos informados, um direito. O direito é um aspecto da virtude ética da justiça. A ética é muito mais. É a própria fundamentação do direito e de todas as demais virtudes humanas. A ética não se subordina ao direito, como o todo não se subordina à parte. Nem o direito pode ser desmembrado da ética, nem a parte pode ser separada do todo à que pertence. (BLÁZQUEZ, p. 198)

Apesar das defesas de Blázquez e de muitos outros autores que defendem o direito à informação, existem os que discordam em alguns pontos importantes que devem ser lembrados. Em alguns códigos, de acordo com Bertrand (1999, p.184), encontram-se frases desprovidas de sentido ou de justificação: O papel do jornalista é dizer a verdade: Mas o que é a verdade? E os inumeráveis fatos verídicos que, com merecimento, nunca são relatados? O público tem o direito de conhecer a verdade: Um direito fundado sobre o quê? Ou ainda O público tem direito à informação: O direito a uma foto da mulher do presidente nua numa praia carioca?

Verdade, objetividade e veracidade são termos que muitos profissionais e teóricos da comunicação gostariam de ver abandonados, por mais que sejam repetidos na deontologia jornalística. Essas questões são frequentemente desprestigiadas e consideradas inúteis. Para Blázquez (1999, p.199) os jornalistas que pensam dessa forma desacreditam a profissão e minam a sua própria razão de existir como instituição social. Quando uma instituição social não responde às aspirações legítimas das pessoas, deve desaparecer.

Referências

CHAUI, Marilena. Filosofia: Série novo ensino médio. Editora Ática, 2003.
KOVACH, Bill; ROSENSTIEL, Tom. Os elementos do jornalismo. São Paulo: Geração Editorial, 2004.
BERTRAND, Claude-Jean. A deontologia das mídias / Claude-Jean Bertrand; tradução de Maria Leonor Loureiro. Bauru: EDUSC, 1999. 236p.
BLÁZQUEZ, Niceto. Ética e meios de comunicação/ Niceto Blázquez. São Paulo: Paulinas, 1999.
PENA, Felipe. Teoria do jornalismo. São Paulo: Contexto, 2005

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