sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Dando a volta por cima



Dando a volta por cima

Por: Cyntia Dias

 Quer saber de uma coisa, também achava essa coisa de “auto-ajuda” pedante, mas há certas verdades que não se pode deixar que se percam no esquecimento. São verdades cotidianas e que de tão simples acabam por passarem despercebidas ao olhar do observador mais atento.


Vejamos como funciona o pensamento positivo. Você está indo mal no trabalho, não tem paciência com a família, não consegue dar atenção para os seus amigos, parece que ninguém te compreende e então você começa a se sentir para baixo. O sentimento de derrota pode realmente levar as pessoas a adoecerem fisicamente e as levarem a derrotas na vida afetiva e profissional. Faz muito sentido não faz. Ou você é o tipo de pessoa que só faz as coisas bem feitas se estiver mal-humorado ou deprimido? Se for, bem você é uma pessoa incomum.


O fato é que o nosso bem-estar influi diretamente nas nossas ações. A coisa do “pensamento positivo” não resolve os problemas é verdade, mas ajuda não se tornando mais um problema. Se você tem um monte de problemas, a depressão será apenas mais um. Às vezes é preciso respirar fundo e tentar enxergar as soluções. E se não houver soluções? Bem, ai não vai precisar se preocupar já que sabe que não há remédio. Como dizia a minha avó, “o que não tem remédio, remediado está”.


E o mundo não vai acabar por causa disso. Muitas outras coisas vão acontecer depois. Algumas muito piores outras muito melhores. O mundo vai continuar girando quer você queira, ou não. O tempo não vai parar só porque você está chateadinho, felizmente o mundo gira, e em uma dessas voltas você estará sorrindo de novo e se sentindo um vencedor.


Acredite: o verão escaldante não dura o ano todo, nem tão pouco o inverno rigoroso. As estações são quatro e quer uma delas esteja boa ou ruim um dia acaba para dar início a outra. As estações se sucedem uma após a outra. Afinal o sol radiante tem que dar lugar a lua majestosa.


Tudo no universo é infinito e as suas possibilidades de sucesso são incontáveis. Observe: as notas musicais, por exemplo, são apenas sete. Porém com apenas sete notas musicais é possível compor uma infinidade de melodias, tantas que é impossível contabilizar. Assim acontece com as cores primárias, suas combinações geram tantos tons que seria impossível visualizá-los todos; e também as combinações de sabores que são infinitas e humanamente incontáveis.


Assim são as habilidades humanas. Temos todo o poder que quisermos. Temos todo o conhecimento que precisamos. Inteligência, todos a tem. O que é preciso é aprendermos a usar as nossas capacidades, os nossos dons. Todos nós temos facilidades para fazermos algumas tarefas, em outras não levamos jeito algum.


O que você precisa descobrir é em que você é bom. Todo mundo é bom em alguma coisa. Você precisa olhar para dentro de você mesmo e se enxergar. Você precisa se reconhecer, mais sem preconceitos. E você precisa se gostar. Você tem que se olhar no espelho da sua alma e dizer “esse (a) sou eu, e eu me aceito. Eu sou bom (boa) nisso, vou trabalhar para melhorar e vou ser o (a) melhor”. Você só precisa dar o primeiro passo. Você só precisa acreditar em si próprio.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Certas verdades nunca são absolutas

Certas verdades nunca são absolutas
Por: Cyntia Dias

Noites quentes e silenciosas.
Sombras nas paredes nuas dos quartos das meninas inocentes.
Mormaço que angustia os velhos nas suas redes nordeste
E tira o sono dos cachorros que fazem a segurança das casinhas mais humildes.

Nessas noites onde a maioria do povo se debate buscando em vão matar os mucuins e muriçocas que os assolam madrugada a dentro,
Parte de uma pequena burguesia abastada dorme tranquilamente em seus quartos decorados com belos Picasso e Portinari, e centrais de ar refrigerado.
Outros tantos garotos desgrenhados e maltratados se jogam pelos trilhos do trem e pelas praças da cidade.
Eles cheiram pó, fumam crack e fazem desordem pela cidade morta.
Também costumam roubar os bêbados distraídos e as mulheres desacompanhadas.
Mais a frente, em outra zona, rapazes e moças de boa estirpe, jovens de boa família, dançam ao som de músicas modernas, trajam roupas caras, relógios de marca e usam drogas sintéticas.
Eles saem para se divertir nas ruas da cidade com seus carros luxuosos em disputas chamadas de racha.
Às vezes, pessoas morrem no meio da diversão.

Algumas raras vezes esses jovens se esbarram nos mesmos lugares
Zona leste e zona sul
Não se olham nos olhos, não se cumprimentam
São apenas universos diferentes que se tocam no infinito das emoções humanas.



II
Meninos e meninas pobres não brincam com meninos e meninas ricos,
Quer eles sejam brancos ou negros, asiáticos ou pardos, gordinhos ou esbeltos, altos ou baixos.... Essas diferenças não importam e não pesam na balança da desigualdade social.

A verdade é que meninos e meninas ricos ainda não estão preparados para dar as mãos a meninos e meninas pobres
E como irmãos dançarem a ciranda da vida.
E porque o mundo ainda é o mesmo e nós ainda somos cheios de pré-conceitos é que pessoas continuam sendo julgadas pelo que têm e não pelo que são.

Por: Cyntia Dias
III

Queira qualquer um desses deuses loucos que se pregam por ai,
Que um dia finalmente tudo isso acabe e
Que as pessoas sejam julgadas pelo que são e não pelo que têm.

É pena ver que o mundo continua com a mesma mediocridade que tinha há dez, 20 anos; e que tantos movimentos sociais só pareçam ter criado uma outra espécie de ser humano. A que não faz nada para mudar e critica quem quer fazer alguma diferença.

Por: Cyntia Dias

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Déjà vu – Lembranças de outra vida (Conto)




Por: Cyntia Dias

O meu jardim está repleto de folhas secas que apodrecem no chão deixando um odor insuportável. As árvores antes frondosas agora estão mortas. Troncos secos que fertilizam a terra estéril. Há muito tempo atrás jogaram diversos tipos de venenos e agrotóxicos naquele chão, outrora fértil. Arrancaram as ervas daninhas à mão e junto com elas, as ervas medicinais e as pequenas árvores frutíferas.

O mato cobre a maior parte do que deveria ser um belíssimo jardim. Insetos caminham livremente nesta que é agora sua casa, e eu que antes era dona passo a invasora. No quintal do vizinho, crianças brincam com mangueiras de água fazendo arco-íris. O sol está indo embora com o finzinho da tarde. Esqueço-me do por que que retornei a este lugar.

A casa é antiga. Ninguém parece ter morado lá depois de mim. A porta não parece estar trancada. Entro na sala extensa. Muita poeira sobre os móveis rústicos e uma sensação de abandono total. Aos poucos minhas lembranças começam a retornar. Lembro do dia em que minha mãe fez bolo de batata. O cheiro estava bom. Meu pai veio logo em seguida apreciar a sobremesa.

Em outro momento, era natal. Muitas pessoas reunidas. Não conheço quase ninguém. Não quero ficar ali. Subo para o meu quarto. Tranco a porta. Sento na cama e me encolho abraçando os meus joelhos. O meu ursinho de pelúcia está próximo. Eu fecho os olhos.

Saio da sala e caminho até a cozinha. Todas as coisas parecem estar nos mesmos lugares. Começo a ver minha mãe preparando o café. Tem um aroma gostoso. Ela sabe muito bem como preparar um café. Diria até que se trata de uma especialista. É a melhor. Sinto tanto amor por ela que meu coração parece se encher de um sentimento de contentamento.

Caminho em direção aos quartos. Entro no meu antigo quarto de criança. Meus brinquedos ainda estão jogados pelo chão. O meu ursinho continua no mesmo lugar. Olho pela janela e vejo meu pai no jardim. Ele parece estar muito feliz com um grupo de amigos e vizinhos. Posso ver que estão fazendo churrasco e estão bebendo também. Um cheiro bom de carne assada invade as minhas narinas.

Sento na cama e pego o ursinho. Outras memórias me veem a mente. Um homem muito feio e muito sujo abre a porta. Ele diz que é o encanador e pergunta onde é a cozinha. Eu indico com a mão. Ele vai embora. Depois de um tempo acordo com gritos desesperados de minha mãe. Ela estava jogada sobre o meu corpo e chorava descontroladamente. Meu pai também chorava e tentava acalmar minha mãe. Eu via tudo de longe.

O meu corpo pequenino de menina de apenas nove anos estava violado e ensanguentado. Não lembro o que houve depois. Eu apaguei e não vi nenhuma fonte de luz. Nenhum anjo veio em meu socorro naquele dia e acho que morri para sempre. Mas continuo vagando e em tempos e tempos retorno para rever meu antigo lar. Já faz algumas décadas. Espero um dia poder renascer, e quem sabe poder brincar junto com aquelas crianças de fazer arco-íris no quintal de casa, em uma tarde de verão.

Sobre cárcere privado (Poesia)


Sobre cárcere privado

Ainda estou presa no meu casulo dourado.
Não pensei que fosse tão difícil me livrar dele.
O esforço é grande mais parece não surtir efeito algum.
Sinto-me encarcerada em um saco de peles cheio de ossos.

Aqui não há paredes e não há portas fechadas com cadeados gigantes.
Apesar disso eu só preciso encontrar a chave para abrir “um não sei o que” que me libertará.
Continuo me debatendo como posso.
Tento não adormecer por causa do cansaço e da fadiga.
Inútil.
Como foram inúteis, até aqui, todas as outras tentativas de escapar.

Meu corpo já não dói tanto.
Deve ter se acostumado com as intempéries.
Não sinto minhas asas,
Nem sei se ainda as tenho,
Mas ainda sonho em alçar vôos tão altos...

Asas de anjo, asas de borboleta, asas de águia, asas de condor, asas de falcão...
Minhas asas estão machucadas,
Assim como meu coração.
Penso se vou poder voar novamente.

Enquanto isso me resigno a minha prisão sem paredes e sem teto, e sem chão, e sem portas ou janelas.
Enquanto travo uma batalha dantesca no meu casulo de platina, aço e ouro,
Sinto lágrimas quentes descendo sobre a minha face,
E por último sinto um estalar de dedos que estraçalha minhas pequeninas asas de papel machê.

Por: Cyntia Dias

domingo, 24 de janeiro de 2010

Veneno de cobra (Poesia)



Veneno de cobra

Vejo-te através de seus olhos de serpente
Posso enxergar através da porta da sua alma
O passado e o futuro
Em imagens desconexas.

Você se move como uma cobra naja
Dá seu abraço terrível do qual ninguém escapa
Sufoca a vítima
Sem dó espalha o seu veneno mortal.

Você se esconde em lugares
Onde não possa ser encontrada
Tem medo que te vejam como realmente você é.
E você não tem motivos para temer, pois uma gota de seu veneno pode matar até 150 pessoas.

Uma criatura doce com espírito de cobra
Um anjo dos céus que expele veneno pela boca
Você se move sorrateiramente
Entre caminhos escuros na noite.

É tão veloz, quando deseja atacar, que parece
Caminhar sobre as nove dobras do céu.
Quando quer se esconder
É tão hábil que parece ocultar-se sob as nove dobras da terra.

Com um coração e uma alma,
Apesar de não parecer possuí-los,
Vaga pelas noites escuras
Ataca apenas os homens maus e salva as mocinhas indefesas.
Por: Cyntia Dias

sábado, 23 de janeiro de 2010

Poesia




Chovia uma chuva fininha lá fora,
E eu podia ver através da grade da janela de meu cárcere.
Uma brisa gelada balançava as folhas da mangueira do meu quintal.
Tudo era tão silencioso e estranhamente confortável...
Era como se não fosse para ser assim,
Ou como se estivesse fora do corpo, fora de mim.
Um sonho, talvez.
Por: Cyntia Dias

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Idas e voltas a um passado não tão distante: A história de todos nós – (Conto)



Por: Cyntia Dias

Eles chegaram por essas terras em meados de 1914. Era o final do primeiro ciclo da borracha, que teve início em 1877. Em 2 de outubro daquele mesmo ano viram ser criado o município amazonense de Porto Velho através da Lei 757, aprovada pela Assembléia Legislativa do Estado do Amazonas e sancionada pelo governador daquele Estado, Jonathas de Freitas Pedroza.

Como milhares de retirantes nordestinos, eles se alojaram em barracos de madeira próximo ao Rio Madeira. Eram apenas três pessoas. O homem de aparência sofrida apesar de aparentar muito mais do que os seus trinta anos tinha muita força e era extremamente trabalhador. Fazia serviços que a maioria não queria ou desprezava. Fazia desde serviços de carpintaria até jardinagem. Saia de madrugada e voltava quase na hora de partir novamente. A mulher lavava roupa ou vendia doces para ajudar o marido.

A mulher era daquelas que não se deixavam abater facilmente. Tinha saído de casa para casar, e teria que casar logo porque já estava grávida. Não poderia desonrar o nome da família. Fugiu com o homem que é o pai de sua filha pequena. Apesar de tudo nunca se arrependeu. Se tivesse ficado em casa provavelmente o pai a teria banido.

Veio para esse lugar perdido no meio do mundo, a Amazônia. Seu marido falou tanto das vantagens, da vida nova que teriam. Os dois se iludiram. Ao chegarem a Porto Velho encontraram uma terra cheia de gente ambiciosa vinda de diversas partes do globo. Como eles que vieram do Ceará, vinham também pernambucanos, paraibanos, gaúchos... Vinham pessoas de outros países também, eram barbadianos, ingleses, e até gregos.

O casal sabia que enfrentaria grandes problemas na Amazônia, mas não imaginavam o que estava por vir. Os diversos tipos de doenças que reinavam na região foram responsáveis por inumeráveis mortes. Existiam as doenças acidentais como a febre amarela, varíola, tuberculose, e as dominantes como a beribéri, disenteria, malária, hanseníase e outras que assolavam a região amazônica.

O Hospital da Candelária, fundado em 1910 pelo médico sanitarista Oswaldo Cruz, vivia abarrotado de gente. Na época em que se deu a construção efetiva da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (1907 a 1912) conta-se que o período de utilização de um trabalhador era de 90 dias, após esse prazo o funcionário já caia atingido por alguma moléstia.

Passaram-se os anos, estamos em 1942. O bebê daquele casal cearense já não é mais uma criança. Após 28 anos a jovem já viu desgraças a perder as contas. A mãe morreu de malária. O pai foi morto pelos índios quando explorava látex na floresta. Disseram para ela que eram de uma tribo canibal.

A mulher não casou. Não quis ter filhos. Nunca se envolveu com homem algum. Pensava que colocar uma criança naquele mundo onde parecia que só existia sofrimento e dor não era justo. Resignou-se a solidão. Às vezes ficava na varanda de casa lembrando as histórias contadas pelos pais. Sabia que eles não haviam fugido só da ira de seu avô. O pai contava com lágrimas nos olhos que a terra de onde vinham era pobre e seca, e que quando ouviu falar de um lugar que tinha água em abundância onde poderiam plantar e colher alimentos mais que suficientes para se manterem, ele simplesmente arrumou as malas, e pediu para a mulher preparar as dela, e fugiram. Esperavam encontrar o novo mundo.

Não estavam completamente errados. Nunca faltou água. Estavam à beira do Madeira. O pai sempre saía para pescar e trazia peixes enormes. Tambaquis, pirarucus, barbados e outras espécies sempre faziam parte da mesa. Ainda fazem, pois ela é apaixonada por peixe.

O ano de 1942 foi marcado pela invasão japonesa aos países asiáticos produtores de borracha silvestre. Na época o Japão formava uma coalizão com mais dois países Itália e Alemanha. O fornecimento da borracha da Malásia aos Estados Unidos foi cortado pelos japoneses. Sem outra opção, os americanos recorreram aos seringais brasileiros. Começava o segundo ciclo da borracha que terminou com o fim da II Grande Guerra Mundial em 1945.

Damos um salto no tempo e chegamos a 1981. A nossa personagem agora tem 67 anos. Ela viu a terra onde nasceu e cresceu se transformar em Território Federal do Guaporé em 13 de setembro de 1943; se transformar em Território Federal de Rondônia em 17 de fevereiro de 1956; e em Estado de Rondônia no dia 22 de dezembro de 1981.

Estamos em 2010, Rondônia passa por mais um ciclo. Depois dos dois ciclos da borracha, do ciclo da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, do ciclo do ouro, chegamos ao ciclo das Usinas Hidrelétricas do Madeira (Santo Antônio e Jirau). Milhares de pessoas ainda veem em busca do Eldorado.

A senhora caminha pela beira do rio. Relembra coisas de sua vida, da infância, dos pais. Foram 96 anos bem vividos, ela pensa. “Muitas coisas aconteceram e eu passei por elas sem me dar conta. Estava aqui desde o princípio. Agora estou velha, me doem os joelhos. Caminho pouco e logo canso. Sem filhos para me amparar ou para deixar qualquer bem que tenha, estou esperando pela morte, mas ainda tenho muita vida. Quero chegar aos 100 anos. Tenho muitas histórias para contar”.

Ela caminha de volta para casa. Senta em sua cadeira de balaço na varanda e fica a observar o majestoso Rio Madeira. Como é belo, ela pensa. Logo começam a chegar algumas crianças da vizinhança. Elas sentam ao redor da simpática senhora e esta começa a contar muitas histórias do tempo em que ela também era apenas uma criança inocente.

A distância que separa - (Poesia)


Por: Cyntia Dias

Meu estômago embrulha quando penso em teu sorriso
Mudo de cor quando vejo você passar
Amor escondido, bandido
Sei que nunca poderá me amar

Passas tão perto de mim
Só há apenas uns milhões de quilômetros separando os nossos corpos
Vejo-te pertinho como se olhasse através do Telescópio Hubble.

Você fuma cigarros de marcas famosas e veste essas roupas futuristas
Você passeia com seu pitbull aos domingos e o banha debaixo do teu chuveiro
Tenho inveja dele.

Corremos um mundo louco para podermos nos reencontrar
Apesar de nunca termos nos visto
Eu reconheço você em cada par de olhos castanhos que vejo
Você me esnoba, finge que não vê

Eu acabo por cantarolar canções antigas de filmes de TV
Canto a do Rei Leão, O Ciclo da Vida, e te deixo partir
Você anda como quem não tem medo
Você não vê o chão onde pisa.

Você se acha descolada e usa coisas ilegais
Você tem furos de agulhas nos braços que viraram grandes feridas abertas
Sua visão embaça e não sabe mais com quem se deita,
Não sabe se está sonhando ou se é ilusão.

Você caminha displicentemente e você não tem medo
Eu fiquei em sua frente e você passou por mim
Não me reconheceu
Só estávamos há uns milhões de quilômetros de distância e você não me viu.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Comer miojo "éuoh"!

Por: Cyntia Dias

Eu sei que não sou boa com a cozinha, mas vez em sempre eu tenho que travar uns duelos nada amigáveis com ela. No final só saem coisas como farofa de ovo, salsinha, sardinha, feijão enlatado, e, é claro, não menos importante o nissim lámen de cada dia (vulgo miojo), aquele que nos salva nas horas mais desesperadoras da fome.

Já experimentei de todos os sabores, apesar de achar que são todos iguais, a fim de tentar não enjoar tão rápido. Tem de frango, queijo, calabresa, carne.... Tem para adulto, criança, vovó, vovô, enfim.... Mais não dar mais!!!!

Esse macarrãozinho já não desce na garganta minha gente. E tem mais, não consigo mais diferenciar os sabores. Tanto faz se é de carne de vaca ou de toucinho de porca. Essa coisa não desce. E tem aqueles de copinho então.... aff. Olha sempre fui adepta de comidas desburocratizadas, sabe as instantâneas e os enlatados.

Espero que as indústrias alimentícias inventem algo diferente para suprir as necessidades de pessoas como eu que fogem do fogão e que não aguentam mais nem ver a embalagem de macarrão instantâneo na frente. Torcendo!!!

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Passos de quem jamais conseguiu chegar ao fim de sua jornada - (Conto)

Por: Cyntia Dias

E continuavam caminhando. Sem saber de onde vinha aquela força, já que não comiam há dias. Para matar a sede dividiam a pouca água que ainda restava nos pequenos recipientes e rezavam uma Ave Maria baixinho.

No total eram seis pessoas na família. O pai era um homem de estatura mediana, esquálido, cabelos e barba por fazer. Não falava. Só mantinha os olhos fixos em algum lugar. Esperava encontrar além do horizonte ao menos uma poça de água barrenta, que tivesse sobrevivido àquela seca toda, para aliviar a sede de seus quatro filhos, de sua magra esposa e a dele próprio.

Caminhavam há bastante tempo. Desde que a seca se instalou nos grotões nordestinos o velho homem percebeu que tinha que fugir dali. Tentar salvar sua família das garras implacáveis da miséria que se abatera sobre o lugar.

Um dia acordou pela manhã e sentou na velha cama improvisada com colchão a base de palha mesmo. Olhou a mulher ao seu lado. Ainda era bonita apesar dos anos e dos filhos. Olhou pela janela e teve um pressentimento ruim. Saiu da casa de sapê e foi alimentar as galinhas. Um pensamento não saia da cabeça do caboclo. A seca chegou. É hora de partir.

Arrumaram os poucos pertences e saíram em busca de outras terras. As crianças maiores iam à frente, duas meninas já crescidas. Um terceiro tentava acompanhar. Era mais novo. E a menina que ainda era de colo ia com a mãe. As idades não são precisas. Os pais os criaram assim meio sem se importar em lhes dar nome ou contar os seus anos. Não teriam mesmo condições para comemorarem os aniversários. Melhor esquecer e cuidar de alimentá-los, no futuro seriam mais braços fortes para trabalhar.

Depois de alguns dias caminhando o estoque de comida acabou. Eles começaram a comer raízes para enganar a fome. As crianças se mostravam mais fracas. A mulher estava muito magra. Não tinha mais leite para o bebê. Este definhava ainda mais a cada dia.

O tempo parecia querer castigar ainda mais a pobre família. Esfarrapados rastejavam pelas terras áridas de um nordeste sem fim. Os dias eram longos. Aos poucos começaram a encontrar mais dificuldades para conseguir água. Nas fazendas os poços secavam e as pessoas começavam a querer expulsá-los quando tentavam encher seus cantis para continuarem viajem.

Já fazia um bom tempo que não avistavam sinal de vida nos sertões. Estavam sem água. O bebê de colo havia falecido por falta de nutrientes e fora enterrado há poucas semanas. A mãe não se lembra de ter chorado. Ninguém lembra. Parece que rezaram mais um rosário e enterraram a pobre criatura em cova rasa. Estava apenas enrolado em um lençol velho. Também já não tinha utilidade, o lençol. O homem pensou que seria uma boca a menos para alimentar, enquanto via mais um pôr do sol sem esperanças de poder chegar a lugar nenhum.

Depois de uns dois dias conseguiram chegar a uma grande fazenda. Disseram que era de um senador muito rico. O homem pediu permissão para ficar com sua família uma noite e também pediu um pouco de comida.

No outro dia pela manhã, ele pôde encontrar com o senador. O senador perguntou se ele tinha filhos. O homem respondeu que tinha quatro, mas que só lhe restavam três. A seca o havia arrancado a filha menor.

O senador perguntou se tinha filhas. “Sim, duas meninas já bem grandinhas”. “Traga-as. Quero vê-las”. E o homem as levou.

O senador disse ter interesse na mais velha. Esta parecia ter uns doze anos. Estava suja, cabelos desgrenhados, roupas em farrapos, olhos sem vida. O homem assentiu. Apenas abaixou a cabeça. O senador disse para ele pegar quanta água quisesse e também comida para a viagem e ainda recebeu uma quantia em dinheiro. Isso daria para manter a mulher e os outros dois filhos que restaram por um tempo.

A despedida foi fria. Disseram que ela tinha que ficar. Esse era o acordo com o senador. A mãe a instruiu a ser boazinha com o velho que aparentava ter uns 60 anos. “Se fizer tudo o que ele te pedir você terá casa boa e comida. Não vai mais sofrer como nós. Se desobedecê-lo ele te caçará e te matará”. A menina só ouvia. Ela viu quando os pais partiram.

Naquele mesmo dia o senador ordenou as suas empregadas para darem banho e arrumarem roupas limpas para a menina. Esta foi bem alimentada e encaminhada para um quartinho nos fundo do casarão da fazenda.

A noite não tardou. O velho senador apareceu na porta da garota e perguntou se podia entrar. Ela pressentiu algo ruim. Encolheu-se na cama. Ele disse que não precisava ter medo. Deu algo para ela beber. Parecia cachaça, desceu queimando a garganta. Depois mais um gole e depois outro. Acordou pela manhã em meio a lençóis manchados de sangue. Todo o corpo doía. Relembrou algumas cenas da noite anterior.

Ao meio dia o velho político quis ver como estava a sua nova aquisição, pois tinha gostado muito do último negócio e até que tinha saído bem barato. Quando o homem entrou no quarto levou um susto. A menina estava com um lençol amarrado no pescoço. Seu corpo estava branco e sem vida. O homem lamentou, mas logo soube que uma outra família se encontrava na sua fazenda em busca de abrigo.

Dando meia volta o senador foi ver os novos visitantes. De cara viu uma menina que não deveria ter mais que nove anos. Pensou que estava na hora de voltar aos negócios e sentiu por sua última mercadoria ter durado tão pouco.

A garota que pariu em cima de um formigueiro - (CONTO)


Por: Cyntia Dias

Essa estória aconteceu há cerca de 30 anos, quando uma jovem se apaixonou perdidamente por um dos rapazes de sua comunidade. A moça morava em uma cidadezinha no interior do Nordeste, tão distante que foi esquecida do resto do mundo.

O pequeno município era pobre, como a sua população. Em meio a miséria, a fome e a seca que castigava aquele povo tão sofrido, muitos davam seu grito de liberdade e fugiam daquele lugar. Geralmente iam para São Paulo. Parece que todos achavam que podiam realizar seus sonhos naquela cidade.

A garota contava 17 anos e não sabia muito sobre o amor, aliás, não sabia muito sobre ela própria. Nem registro de nascimento tinha. Ingênua, se entregou na primeira oportunidade. Não deu outra, engravidou, mas não percebeu.

Cinco longos meses se passaram e a garota não se dava conta do porque da sua menstruação ter cessado. Na verdade ela até gostava. Os dias em que o sangue descia, ela sentia cólicas terríveis. Não voltou a ver o rapaz novamente. Ele viajou para o norte. Foi tentar a vida na Amazônia.

Depois de um tempo as pessoas começaram a perceber algo estranho naquela menina de apenas 150 centímetros e uns poucos 40 quilos. “Mais o que é isso as velhas fofoqueiras cochichavam”. “A menina parece ter uma pequena barriga apesar desse corpo magro”. E se entreolhavam, e davam palpites.

Logo todos estavam comentando. Não tardou para as notícias chegarem aos ouvidos temerosos dos pais que envergonhados mandaram sua filha mais velha para longe de casa. Ela ficaria aos cuidados da avó. Longe dos comentários maldosos.

Sem entender ainda o que estava acontecendo a menina se resignou a cumprir o que os pais ordenaram, sob pena de ser expulsa daquela família de vez. Não havia o que fazer. Tinha que esperar.

Mais quatro longos meses de sofrimentos e angústias. Em um dia que não estava muito bem a garota foi para o mato e lá teve um grande susto. Ela pariu. Deu a luz uma criança, mas não sabia muito bem o que fazer com o pequeno e estava apavorada.

Completamente em pânico deixou a criança no chão e saiu sem ver nada a sua frente. O bebê começou a choramingar em cima de umas folhas que estavam espalhadas no local. Não demorou muito estava coberto de formigas, pois se encontrava bem em cima de um formigueiro. Aos poucos o choro cessou e uma brisa suave levantou as folhas secas.

A garota continuou caminhando, sem rumo. Tomada pela loucura. Nunca mais foi vista.

Sem título

Por: Cyntia Dias

Estou eu aqui em casa sentada em frente ao meu PCzinho tomando refrigerante barato (leia-se Tuchaua) e comendo biscoitos mini wafer da promoção do mercadinho próximo a minha humilde residência (leia-se alugada).

Estava lendo uns blogs destinados ao público gay (lésbicas) e gostei muito do conteúdo. O pessoal tem talento. Mais enfim cheguei ao BBB 10. Muitas críticas a performance apagadinha da representante lésbica da competição, Angélica, vulgo “Moranguinho”, para os íntimos e fãs.

Na verdade estou torcendo pela moça e acho mesmo que ela anda apagada na casa. Bom, a torcida da angélica cresce a cada dia e percebe-se que não são apenas gays que torcem por ela. Muitos heterossexuais também estão na torcida.

Não estou acompanhando muito não, mas desejo boa sorte a todos, principalmente aos três mosqueteiros que resolveram enfrentar esse Big Brother Brasil e assumir sua opção sexual para o resto do país.

E ai, quem vai ter a coragem de atirar a primeira pedra?

A Rede Globo tudo pode!!!!

Não duvidem se sair um romance gay desse BBB. Eu não duvido.
“São muitos os desafios, mas só precisa vencer uma batalha de cada vez. Foque no objetivo e siga em frente.” (Cyntia Dias)
“As decisões mais importantes da vida são as mais difíceis, por isso são imprescindíveis.” (Cyntia Dias)

Juntando os caquinhos

Por: Cyntia Dias

Nooossa!! Cara!
Acordei agora, meio dia.
Passei a noite insone e ainda por cima tive um daqueles sonhos inexplicáveis que não chegam a ser pesadelo, mas também não é um sonho de contos de fada, sabe.

Estou um caco. Não tenho ânimo para fazer nada. Tenho que tomar algumas decisões importantes, mas sempre acaba ficando para depois.

Eu trabalho, ta! Pelo menos trabalhava. Agora digamos que estou de férias forçadas. Perdi o emprego. Não, não me demitiram, não. Eu pedi as contas. Isso já deve fazer uma semana. Não procurei outro ainda. O motivo? Cara! Ambiente hostil. Putz! Bota hostil nisso. Mais valeu enquanto durou. Vou partir pra outra. Até mais!

sábado, 16 de janeiro de 2010

Sobre o amor - (Poesia)

Por: Cyntia Dias

Sobre o amor

Meu pequeno raiozinho de sol
Minha luz na escuridão
Você é a outra parte de mim que havia se perdido com o passar dos séculos

Nossas almas se juntam novamente
E eu sinto que você representa tudo o que eu preciso
É luz para os meus olhos
Um banquete para alimentar minha alma

Meu corpo anseia pelo calor da sua pele
Por sentir sua respiração ofegante
Suas mãos macias
Sua boca deliciosamente entreaberta a espera do contato com os meus lábios

Os meus olhos encaram os seus
E sei que seu coração dispara junto ao meu
No mesmo ritmo
Na mesma batida

Sinto que ao nos unirmos não unimos apenas os nossos corpos
É maior que isso
Muito maior
Sinto nossos corações, nossas emoções
Fundindo-se

Você representa muito para mim
Você que eu não posso dar nome, nem formas,
Mas que existe
Que me faz tão feliz

O mundo pára quando estou ao teu lado
O mundo só pode parar mesmo
Porque não há nada mais importante que registrar a existência de um sentimento tão profundo,
Tão verdadeiro,
Tão vivo.

II



Você me trouxe de volta a vida
E me ensinou sobre o amor
Eu estava perdida e você me encontrou
Eu não tinha motivos e você me deu uma razão para lutar

Já não vivo mais tão só
Você é companhia constante
Já não tenho frio
Você é meu cobertor
Já não sinto mais dor
Você curou todas as minhas feridas
Já não me sinto mais faminta
Você saciou a minha fome
Já não sinto sede
Você me deu para beber do seu amor
E me amou
E amou sem pedir muito em troca
E o pouco que pede
Ainda assim te recuso às vezes
(Faço isso com a desculpa besta de que quero que sinta falta)
Bobagem
Eu sou a primeira que corre desesperada ao teu encontro
A primeira que te agarra e te faz ficar mais tempo na cama
Como que para não acordar nunca mais
Espero que com isso o tempo pare
Mas o tempo é cruel
Ele não escolhe lados
Simplesmente continua correndo
Sem se importar se abre ou cicatriza feridas

Já passou algum tempo
Tempo que não nos demos ao trabalho de contar
Ou será que contamos?
Acho que sim
Os primeiros dias
As horas
O primeiro dia de namoro
O primeiro encontro

Tudo tão rápido
O primeiro beijo
Tão esperado e tão sonhado
O primeiro toque
A primeira vez que fizemos amor...
Tudo aconteceu tão rápido. Parecia um sonho que logo acabaria. Logo acordaríamos desse devaneio.

Não acordamos
Passaram-se os dias
Os meses
Encontramos-nos outras vezes
Sempre com a mesma entrega
Sem cobranças, sem culpas, sem discussões desnecessárias.

Nunca brigamos
Quase cinco meses
Encontros mensais
Em hotéis de cidades pequenas
Finais de semana
Encontros que podem se tornar mais escassos...
Espero que não.

MSN o dia todo
Ligações
Todas as oportunidades são aproveitadas ao máximo

O Orkut é um aliado
Sempre
Internet? Bom sem ela não teríamos nos conhecido....
É incrível como a tecnologia aproxima e afasta as pessoas ao mesmo tempo.
Tão perto.... Tão distante....

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Extrema de Rondônia tem mais eleitores do que 16 municípios rondonienses

http://www.oobservador.com/cidades/not_cid9338,0.html

Por: Cyntia Dias

Eleitores de Ponta do Abunã, possivelmente do novo município de Extrema de Rondônia, somavam até as eleições de 2008, exatamente 7.754 votos. Esse número é maior do que o número de eleitores de 16 municípios rondonienses.

Os distritos de Extrema (3.382 eleitores), Nova Califórnia (2.142 eleitores), Vista Alegre do Abunã (1.757 eleitores), Nova Aliança (238 eleitores) e Fortaleza do Abunã (235 eleitores) somados representam uma população maior do que o município de Pimenteiras, por exemplo, que conta com um número de eleitores de apenas 2.157 pessoas.

Os quatro distritos de Porto Velho lutam para conseguir emancipação e se tornarem finalmente um município. O plebiscito envolvendo toda a população de Porto Velho inclusive a Ponta do Abunã acontecerá no dia 28 de fevereiro. O voto é obrigatório para maiores de 18 anos e facultativo para analfabetos, maiores de 70 e maiores de 16 e menores de 18 anos. A proposta de emancipação será considerada aprovada se obtiver o voto favorável da maioria dos eleitores que comparecerem às urnas.

Veja a lista dos municípios com número de eleitores menor que a Ponta do Abunã. Esses números dizem respeito aos eleitores cadastrados até as eleições de 2008.

1º Ponta do Abunã – 7.754
2º Andreazza – 6.917
3º Vale do Paraíso – 6.590
4º Vale do Anari – 6.051
5º Corumbiara – 5.845
6º Itapuã – 5.514
7º Chumpinguaia – 5.345
8º Nova União – 5.315
9º Cabixi – 5.127
10º São Felipe – 5.107
11º Teixeirópolis – 4.206
12º Cacaulândia – 3.882
13º Castanheiras – 3.465
14º Primavera de Rondônia – 3.342
15º Rio Crespo – 2.750
16º Parecis – 2.722
17º Pimenteiras – 2.157

Fonte: Tribunal Regional Eleitoral.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Condomínio libera nuvem de fumaça

Rondônia não viu a COP 15
Condomínio libera nuvem de fumaça

Por: Cyntia Dias

http://www.oobservador.com/nacional/not_nac9317,0.html


Hoje (08/01) pela manhã o Condomínio Residencial Iguaçu resolveu ligar o gerador de energia do prédio por causa do apagão que deixou todo o estado de Rondônia e parte do Acre às escuras por mais de cinco horas. Nenhum problema até aqui.

O problema mesmo foi a nuvem de fumaça negra que se espalhou no ar poluindo o meio ambiente. Diante deste fato, a reportagem do jornal eletrônico O Observador procurou saber o que estava acontecendo.

Segundo informações do porteiro do prédio, o gerador estava com problemas, mas tinha que continuar ligado por causa dos elevadores. Enquanto durou o apagão o gerador de energia do Condomínio Iguaçu, localizado na Avenida Calama esquina com a Avenida Presidente Dutra, em Porto Velho, continuou a funcionar criando uma nuvem negra de fumaça que além de poluir o meio ambiente irritava os olhos dos transeuntes que passavam pelo local.

Parece que a COP 15, Conferência Mundial do Clima, não influiu muito em Rondônia.

Apagão influi no trânsito de Porto Velho

CAOS NO TRÂNSITO
Apagão influi no trânsito de Porto Velho

http://www.oobservador.com/cidades/not_cid9318,0.html

Por: Cyntia Dias

Durante mais de cinco horas os semáforos de Porto Velho permaneceram apagados. Motivo: o apagão que atingiu todo o estado de Rondônia até Rio Branco no Acre.

A falta de sinalização deixou os motoristas mais atentos a acidentes. Poucos guardas de trânsito atuaram para ajudar a diminuir o impacto do apagão. Segundo informações, apenas na Avenida Sete de Setembro, Centro da capital, havia alguns guardas ajudando a organizar o fluxo de veículos.

Na região que vai de Ariquemes até Vilhena a energia voltou a partir do meio dia. Da região de Ariquemes à capital a eletricidade se normalizou a partir das 14h.

Apagão atinge todo o estado de Rondônia até Rio Branco

APAGÃO GERAL
Apagão atinge todo o estado de Rondônia até Rio Branco

http://www.oobservador.com/cidades/not_cid9310,0.html

Por: Cyntia Dias


Apagão de mais de cinco horas deixa todo o Estado de Rondônia até a capital do Acre, Rio Branco, "às escuras". A energia caiu por volta das 9h da manhã de hoje (08/01) sexta-feira, e começou a voltar ao normal a partir de meio dia.

O apagão se deu por causa de um problema no sistema de transmissão entre Pimenta Bueno e Vilhena. A energia tinha voltado até a cidade de Ariquemes no horário de 12h20. Às 14 horas já tinha voltado a energia na capital.

Segundo a assessoria da Ceron – Centrais Elétricas de Rondônia, a energia não voltou em Porto Velho ao mesmo tempo em que outros municípios localizados depois de Ariquemes devido a um problema técnico na Eletronorte. Por esse motivo toda a região depois de Ariquemes, incluindo Porto Velho até Rio Branco ainda estava às escuras a partir do meio dia.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Carnaleste espera um público de aproximadamente 50 mil pessoas no carnaval da Zona Leste




http://www.oobservador.com/cidades/not_cid9306,0.html

Por: Cyntia Dias

O bloco de Carnaval Carnaleste vem com toda força neste ano de 2010. O desfile terá cobertura total da rede de televisão Record News. Espera-se um público de aproximadamente 50 mil pessoas para prestigiar o evento.

Com data marcada para o dia 16 de fevereiro, os diretores do Carnaleste já começam a partir deste domingo (10/01) os esquenta-carnaval, uma espécie de ensaio do bloco. Os esquenta-carnaval acontecem nesses dois primeiros domingos no bairro JK em frente ao colégio Daniel Neri. Posteriormente os ensaios acontecerão no bairro Esperança da Comunidade e no Ulisses Guimarães.

Os organizadores do evento afirmam que ano passado o bloco só perdeu em número de participantes para a Banda do Vai quem quer. Este ano por força de lei municipal, a Lei 2.581/2009 o bloco de carnaval Carnaleste deverá desfilar no circuito cultural Zona Leste, pertinente a Sociedade Cultural Carnaleste, que compreende inicialmente a concentração da Rua Alexandre Guimarães com José Amador dos Reis, seguindo pelas Ruas José Amador até a Rua Mário Andreazza em frente SEMOB.

A presidente do bloco Carnaleste Michele Santos, o vice-presidente Anderson Nanãn e o coordenador geral Sidney Mendonça, esperam que o carnaval deste ano seja como o dos anos anteriores, onde as pessoas realmente foram às ruas para se divertir e onde não houve casos de violência.


História do Carnaleste

Em 2007 nasce o Carnaleste, uma iniciativa de Sidney Mendonça dirigente da Associação “Broto do Açaí” no bairro São Francisco, promovendo o desfile da escola de samba Gaviões do Guaporé e outras entidades carnavalescas na terça-feira de carnaval. O objetivo foi organizar um carnaval direcionado para o público da Zona Leste de Porto Velho. No primeiro ano participou como convidado o Bloco do RUM, também nascido na Zona Leste.

Já em 2008 a Zona Leste uma das áreas mais habitadas de Porto Velho, pela segunda vez consecutiva realizou seu próprio carnaval. Nesta segunda edição somam-se aos blocos do primeiro ano os blocos Acunneraa, Bloco do Açaí; As Periguetes. Com esse crescimento o sucesso foi estrondoso, com um público participante superior a 30.000 (trinta mil) pessoas, o Carnaleste tornou-se revelação e consagrou-se no carnaval de Rua de Porto Velho no ano de 2008.

Em 2009, o evento se consolida conquistando de uma vez por todas seu público e seu espaço no calendário festivo de carnaval de época de Porto Velho.

Em 13 de junho de 2009, unem-se os Blocos Açaí e Rum e cria-se a ASSOCIAÇÃO CULTURAL E RECREATIVA BLOCO CARNALESTE-ACREBCAR, com o objetivo de aprimorar a organização do evento Carnaleste e se tornar referência em evento carnavalesco na capital de Rondônia.

Mais Informações:

Sidney Mendonça – 9244 3624
Anderson Nanãn – 9265 6044

Michele Santos - 9255 5014

O bloco está localizado na Rua José amador dos Reis, Shopping Leste - sala 25, segundo piso centro comercial da Zona Leste, Porto Velho/RO.

Prefeitura da capital abandona cemitério Santo Antônio







http://www.oobservador.com/cidades/not_cid9296,0.html

Por: Cyntia Dias

Nem mortos conseguem descansar

Prefeitura da capital abandona cemitério Santo Antônio


Como não há segurança no local, marginais aproveitam a oportunidade para violar e saquear cadáveres. Furtam anéis, pulseiras, cordões e até dentes de ouro.

O cemitério de Santo Antônio está abandonado pela prefeitura de Porto Velho. Um verdadeiro matagal toma conta da área onde ficam os túmulos. Muitas covas encontram-se abertas. Como não há segurança no local, marginais aproveitam a oportunidade para violar e saquear cadáveres. Furtam anéis, pulseiras, cordões e até dentes de ouro. Quando chove as covas alagam. Muitos corpos já desapareceram do local sem que os responsáveis dêem conta. A prefeitura demonstra uma tremenda falta de respeito com a população não zelando pelos seus próprios mortos. As pessoas que visitam o local se chocam com a situação de verdadeira calamidade do cemitério Santo Antônio.

Moradores do Airton Sena voltam a sofrer perseguições da prefeitura da capital



http://www.oobservador.com/cidades/not_cid9285,0.html

Por: Cyntia Dias

Prefeitura volta a assombrar a vida de moradores do bairro Airton Sena, Zona Leste de Porto Velho. Desta vez a vítima foi Francisca Aurélia Monteiro, 31 anos, mãe de três filhos.

Francisca está construindo uma casa para a mãe, a dona Francisca Maria Monteiro Lima, ao lado de sua residência. Segundo Francisca, o terreno foi doado a mãe dela pela ex-proprietária.

Tudo estava indo bem até que hoje (06/01) pela manhã uma funcionária da prefeitura foi a residência de Francisca e exigiu que ela paralisasse as obras ameaçando-a, caso contrário, chamar os fiscais da prefeitura.

Com medo a moradora procura o jornal O Observador para denunciar os desmandos do Executivo Municipal temendo que a mãe possa perder o único bem que possui.

Na ocasião não foi apresentado nenhum documento judicial.

Outros casos

A comunidade do bairro Airton Sena pede mais transparência nas ações da prefeitura municipal de Porto Velho. Segundo Moradores, os agentes municipais sempre agem de forma a prejudicar as famílias mais antigas do bairro, pessoas que moram na área há mais de cinco anos.

Essas famílias querem ter seu de direito de posse respeitado, pois elas já se encontram na área há bastante tempo e as novas famílias que estão sendo empossadas pela prefeitura já provaram mais de uma vez que não são nada carentes e sim que possuem muitos bens, não precisando assim desabrigar outras para poder obter sua moradia.

Já faz quase cinco meses desde a primeira vez em que a prefeitura da capital expulsou diversos moradores do bairro. As famílias ainda aguardam resposta da justiça. O fato aconteceu no dia 21 de agosto de 2009. Os moradores ainda não se conformaram.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Terminal Hidroviário custará R$ 12 milhões aos cofres públicos

http://www.oobservador.com/cidades/not_cid9254,0.html

Por: Cyntia Dias

A construção do Terminal Hidroviário Municipal de Porto Velho deverá ficar pronta em meados deste ano. A responsabilidade pela administração do terminal será da Secretaria Municipal de Trânsito e Transporte - Semtran. A obra custará em torno de R$ 12 milhões com recursos do Ministério dos Transportes e contrapartida da prefeitura.

Hoje há cerca de 50 barcos que transitam no Rio Madeira e que são empregados no turismo local e de uso misto para transportar pessoas e mercadorias. Todas essas embarcações serão cadastradas e qualificadas de acordo com a função junto à Semtran. As licenças de navegação e controle de viagem continuarão sob responsabilidade da Marinha.

Mudarão todas as formas de embarque e desembarque. Será responsabilidade da prefeitura de Porto Velho organizar as chegadas e partidas, a emissão de passagens, o controle do carregamento das mercadorias, a segurança e o conforto do usuário.

O Terminal

O Terminal Hidroviário de Porto Velho está classificado como tipo IP4, Instalação Portuária Pública de Pequeno Porte, e ocupará uma área de mais de 7 mil m² urbanizada e contará também com um aterro para elevar a área e garantir que as águas do Madeira não avancem o local.

O projeto é dividido em duas etapas: civil e naval. A parte de engenharia civil deverá ficar pronta até o meio deste ano e a parte naval terminará no final do ano. A estrutura é formada por 20% de alvenaria e os outros 80% é de estrutura de aço. O investimento oscila em torno de R$ 12 milhões com recursos do Ministério dos Transportes e a contrapartida da prefeitura.

O Terminal terá duas partes distintas uma em solo, com toda estrutura para os usuários e outra sobre o Rio Madeira. Os flutuantes vão subir e descer conforme o nível da água é será a ‘ponte’ de ligação do terminal de embarque e desembarque com a terra firme.

Estarão à disposição do público em geral uma área coberta com 500 m² com sala de espera e de estar, com guichês para emissão de bilhetes, acesso ao portador de necessidades especiais, ambiente climatizado, lojas, segurança 24 horas, banheiros, fraldário, praça de alimentação e postos de fiscalização das polícias Federal e Militar, da Receita Federal, da Marinha, da Vigilância Sanitária, do Ibama, guarda-volumes, mais o setor da administração municipal e quatro boxes de atendimento externo e estacionamento.

Olhos de cão azul - Gabriel García Márquez

Olhos de cão azul

Gabriel García Márquez

Então olhou para mim. Pensava que olhava para mim pela primeira vez. Mas então, quando se virou por trás do abajur, e eu continuava sentindo sobre o ombro, nas minhas costas, seu escorregadio e oleoso olhar, compreendi que era eu quem a olhava pela primeira vez. Acendi um cigarro. Traguei a fumaça áspera e forte, antes de fazer girar a cadeira, equilibrando-a sobre uma das pernas posteriores. Depois disso a vi ali, como havia estado todas as noites, de pé junto ao abajur, me olhando. Durante breves minutos não fizemos nada mais que isto: olhar-nos. Eu, olhando-a da cadeira, equilibrando-me numa das pernas traseiras. Ela, em pé, me olhando, com uma das mãos, comprida e quieta, sobre o abajur. Via as pálpebras iluminadas como todas as noites. Foi então que lembrei o de sempre, quando lhe disse: "Olhos de cão azul". Ela me disse, sem tirar a mão do abajur: "Isso. Já não o esqueceremos nunca". Saiu da órbita suspirando: "Olhos de cão azul. Escrevi isso por todas as partes”.

Vi-a caminhar em direção à cômoda. Vi-a aparecer na lua circular do espelho, olhando-me agora no final duma ida e volta de luz matemática. Vi-a continuar me olhando com seus grandes olhos de cinza acesa: olhando-me enquanto abria uma caixinha revestida de nácar rosado. Vi-a passar pó-de-arroz no nariz. Quando acabou de fazer isso, fechou a caixinha e voltou a ficar em pé e andou novamente em direção ao abajur, dizendo: "Temo que alguém sonhe com este quarto e mexa nas minhas coisas"; e estendeu sobre a chama a mão comprida e trêmula, a mesma que estivera esquentando antes de sentar-se em frente ao espelho. E me disse: "Você não sente o frio". E eu lhe disse: "Às vezes". E ela me disse: "Você deve senti-lo agora". E então compreendi por que não tinha podido ficar sozinho na cadeira. Era o frio o que me dava certeza da minha solidão. "Agora o sinto", disse. "E é raro, porque a noite está quieta. Talvez o lençol tenha rodado". Ela não respondeu. Começou a se mexer em direção ao espelho e voltei a girar sobre a cadeira para ficar de costas para ela. Embora sem vê-Ia, sabia o que estava fazendo. Sabia que estava outra vez sentada diante do espelho, vendo minhas costas, que haviam tido tempo para chegar até o fundo do espelho, e serem encontradas pelo seu olhar, que também havia tido o tempo justo para chegar até o fundo e regressar antes que a mão tivesse tempo de iniciar a segunda virada — até os lábios que estavam agora pintados de carmim, da primeira virada da mão em frente ao espelho. Eu via, à minha frente, a parede lisa, que era como outro espelho cego, onde eu não a via sentada às minhas costas, mas imaginando onde estaria, se no lugar da parede tivesse sido colocado um espelho. "Estou vendo você", disse-lhe. E vi, na parede, como se ela tivesse levantado os olhos e me visto de costas na cadeira, ao fundo do espelho, com o rosto voltado para a parede. Depois vi-a abaixar as pálpebras, outra vez, e ficar com os olhos quietos no seu sutiã, sem falar. E voltei a lhe dizer: "Estou vendo você." E ela voltou a levantar os olhos do sutiã. "É impossível", disse. Eu perguntei por quê. E ela, com os olhos outra vez quietos no sutiã: "Porque você tem o rosto voltado para a parede". Então eu fiz girar a cadeira. Tinha o cigarro apertado na boca. Quando fiquei de frente para o espelho, ela estava outra vez junto do abajur. Agora tinha as mãos abertas sobre a chama, como duas asas abertas de galinha, sendo assada, e com o rosto sombreado pelos próprios dedos. "Acho que vou me resfriar", disse. "Esta deve ser uma cidade gelada”. Voltou o rosto de perfil e sua pele de cobre vermelho se tornou repentinamente triste. "Faça alguma coisa contra isso", disse. E ela começou a tirar a roupa, peça por peça, começando por cima; pelo sutiã. Disse-lhe: "Vou me virar para a parede". Ela disse: "Não. De todas as maneiras você vai me ver, como me viu quando estava de costas". Mal tinha acabado de dizer isso e já estava despida quase por completo, com a chama lambendo-lhe a comprida pele de cobre. "Sempre tinha querido ver você assim, com o couro da barriga cheio de buracos fundos, como se houvessem feito você a pauladas". E antes que eu me desse conta de que minhas palavras se tinham tornado torpes diante da sua nudez, ela ficou imóvel, esquentando-se na órbita do abajur, e disse: "Às vezes creio que sou metálica". Manteve o silêncio por um instante. A posição das mãos sobre a chama mudou levemente. Eu disse: "Às vezes, em outros sonhos, pensei que você é apenas uma estatueta de bronze num canto de algum museu. Talvez por isso sinta frio". E ela disse: "Às vezes, quando durmo sobre o coração, sinto que o corpo fica como um ovo, e a pele como uma lâmina. Então, quando o sangue me bate por dentro, é como se alguém me estivesse chamando com os nós dos dedos na barriga, e sinto meu próprio som de cobre na cama. É como se fosse assim como você diz: de metal laminado". Aproximou-se mais do abajur. "Teria gostado de ouvir você", disse. E ela disse: "Se alguma vez nos encontrarmos ponha o ouvido nas minhas costelas, quando eu dormir sobre o lado esquerdo, e me ouvirá ressonar. Sempre desejei que você alguma vez fizesse isso”. Ouvi-a respirar fundo enquanto falava. E disse que durante anos não tinha feito nada diferente disso. Sua vida estava dedicada a me encontrar na realidade, por meio dessa frase identificadora. "Olhos de cão azul." E na rua ia dizendo em voz alta, que era uma maneira de dizer à única pessoa que teria podido compreendê-la:

"Eu sou a que chega em seus sonhos todas as noites e lhe diz isto: olhos de cão azul". E ela disse que ia aos restaurantes e dizia para os garçons, antes de fazer o pedido: "Olhos de cão azul". Mas os garçons lhe faziam uma respeitosa reverência, sem que houvessem lembrado nunca ter dito isso nos seus sonhos. Depois escrevia nos guardanapos e riscava com a faca o verniz das mesas: "Olhos de cão azul". E nos cristais embaçados dos hotéis, das estações, de todos os edifícios públicos, escrevia com o indicador: "Olhos de cão azul". Disse que uma vez chegou a uma drogaria e percebeu o mesmo cheiro que tinha sentido no seu quarto uma noite, depois de ter sonhado comigo: "Deve estar perto", pensou, vendo a cerâmica limpa e nova da drogaria. Então se aproximou do vendedor e lhe disse: "Sempre sonho com um homem que me disse: "Olhos de cão azul". E disse que o vendedor a havia olhado nos olhos e dito: "Na verdade, moça, a senhora tem os olhos assim". E ela disse: "Preciso encontrar o homem que me diz isso nos sonhos". E o vendedor começou a rir e foi para o outro lado do balcão. Ela permaneceu olhando o ladrilho limpo do chão e sentindo o cheiro. E abriu a bolsa e se ajoelhou e escreveu com o batom sobre o ladrilho, com grandes letras vermelhas: "Olhos de cão azul". O vendedor regressou de onde se encontrava. Disse-lhe: "Moça, a senhora sujou o ladrilho". Deu-­lhe um pano úmido, dizendo: "Limpe-o". E ela disse, ainda junto ao abajur, que passou a tarde toda agachada, lavando o ladrilho e dizendo: "Olhos de cão azul", até que as pessoas se aglomeraram na porta e disseram que estava louca.

Agora, quando acabou de falar, eu continuava no canto, sentado, equilibrando-me na cadeira. "Tento me lembrar todos os dias da frase com que preciso encontrar você", disse. "Agora creio que amanhã não a esquecerei. Mas sempre esqueço ao acordar quais são as palavras com que posso encontrar você". E ela disse: "Você mesmo as inventou desde o primeiro dia". E eu lhe disse: "Inventei-as porque vi seus olhos cor de cinza. Mas nunca me lembro delas na manhã seguinte." E ela, com os punhos fechados junto ao abajur, respirou fundo: "Se pelo menos pudesse recordar agora em que cidade estive escrevendo isso".

Seus dentes apertados resplandeceram sobre a chama. "Eu gostaria de tocar em você agora", disse. Ela levantou o rosto que estivera olhando a luz: levantou o olhar ardente, assando-se também do mesmo jeito que ela, do mesmo jeito que suas mãos: e eu senti que me viu, no canto, onde continuava sentado, me balançando na cadeira. "Você nunca me tinha dito isso", disse. "Agora digo, e é verdade", disse. Do outro lado do abajur ela me pediu um cigarro. O toco tinha desaparecido dos meus dedos. Esquecera que estava fumando. Disse: "Não sei por quê, não posso lembrar onde o escrevi". E eu lhe disse: "Pela mesma razão pela qual eu não poderei lembrar as palavras amanhã". E ela disse, triste: "Não. É que às vezes creio que também sonhei isso". Fiquei em pé e andei até o abajur. Ela estava um pouco mais para lá, e eu continuava andando, com os cigarros e os fósforos na mão, e não passaria o abajur. Aproximei dela o cigarro. Ela o apertou entre os lábios e se inclinou para atingir a chama, antes que eu tivesse tempo de acender o fósforo. "Em alguma cidade do mundo, em todas as paredes, têm que estar escritas estas palavras: 'Olhos de cão azul", disse. "Se amanhã me lembrasse delas iria buscar você". Ela levantou outra vez a cabeça e já tinha a brasa acesa nos lábios."Olhos de cão azul", suspirou, recordando, com o cigarro jogado sobre o queixo e um olho semifechado. Aspirou a fumaça, com o cigarro entre os dedos, e exclamou: "Já isto é outra coisa. Estou me sentindo mais quente". E disse-o com a voz um pouco morna e fugidia, como se não o tivesse dito realmente, mas como se houvesse aproximado o papel à chama enquanto eu lia: "Estou entrando — e ela tivesse continuado com o papelzinho entre o polegar e o indicador, virando-o, enquanto ia se consumindo e eu acabava de ler — ­... mais quente", antes que o papelzinho se consumisse por completo e caísse ao chão amassado, diminuído, convertido num leve pó de cinza. "Assim, é melhor", disse. "Às vezes me dá medo ver você assim. Tremendo junto ao abajur".

Há vários anos nos víamos. Às vezes, quando já estávamos juntos, alguém deixava cair lá fora uma colherinha e acordávamos. Pouco a pouco íamos compreendendo que nossa amizade estava subordinada às coisas, aos acontecimentos mais simples. Nossos encontros terminavam sempre assim, com o cair de uma colherzinha na madrugada.

Agora, junto ao abajur, estava me olhando. Eu lembrava que antes também me havia olhado assim, desde aquele remoto sonho em que fiz a cadeira girar sobre as pernas traseiras e fiquei diante de uma desconhecida de olhos cinzentos. Foi nesse sonho que perguntei a ela pela primeira vez:"Quem é a senhora?" E ela me disse: "Não lembro". Eu lhe disse: "Mas acredito que nos vimos antes". E ela disse, indiferente: "Creio que alguma vez sonhei com o senhor, com este mesmo quarto". E eu lhe disse: "É isso. Já começo a lembrar". E ela disse: "Que curioso. É verdade que temos nos encontrado em outros sonhos".

Deu duas chupadas no cigarro. Eu estava ainda em pé em frente ao abajur, quando fiquei olhando para ela de repente. Olhei-a de cima a baixo e ainda era de cobre; mas já não de metal duro e frio, senão de cobre amarelo, macio, maleável. "Gostaria de tocar em você", voltei a dizer. E ela disse: "Você jogaria tudo por água abaixo", voltou a dizer, antes que eu pudesse tocá-la. "Talvez, se você se virar por trás do abajur, acordaríamos sobressaltados quem sabe em que parte do mundo". Mas eu insisti: "Não importa". E ela disse:"Se virássemos o travesseiro, voltaríamos a nos encontrar. Mas você, quando acordar, terá esquecido tudo". Comecei a me mexer em direção ao canto. Ela ficou por trás, esquentando as mãos sobre a chama. E eu ainda não estava junto da cadeira quando a ouvi falar às minhas costas: "Quando acordo à meia-noite, fico revirando-me na cama, com os fios do travesseiro ardendo no joelho e repetindo até o amanhecer: 'Olhos de cão azul'".

Então fiquei com o rosto na parede. "Já está amanhecendo", disse sem olhar para ela. "Quando deram duas da manhã, estava acordado, já fazia bastante tempo." Dirigi-me até a porta. Quando tinha pegado a maçaneta, ouvi outra vez sua voz igual, invariável: "Não abra essa porta", disse. "O corredor está cheio de sonhos difíceis". E eu lhe disse: "Como você sabe disso?" E ela me disse: "Porque há pouco estive ali e tive que voltar quando descobri que estava dormindo sobre o coração". Eu mantinha a porta entreaberta. Movi um pouco o batente, e um ar frio e tênue me trouxe um cheiro fresco de terra vegetal, de campo úmido. Ela falou outra vez, virei-me, mexendo ainda o batente montado em gonzos silenciosos, e lhe disse: "Creio que não há nenhum corredor aqui fora. Sinto o cheiro do campo". E ela,já um pouco longe, me disse: "Conheço isso mais do que você. O que acontece é que lá fora há uma mulher sonhando com o campo". Cruzou os braços sobre a chama. Continuou falando: "É essa mulher que sempre desejou ter uma casa no campo e nunca pôde sair da cidade". Eu lembrava ter visto a mulher num outro sonho anterior, mas sabia, já com a porta entreaberta, que dentro de meia hora tinha que descer para o café da manhã. E lhe disse: "De todas maneiras, tenho que sair daqui para acordar".

Lá fora o vento bateu um instante, ficou quieto depois, e ouviu-se a respiração de alguém adormecido que acabava de virar-se na cama. O vento do campo suspendeu-se. Já não houve mais odores. "Amanhã vou reconhecer você por isso", disse. "Vou reconhecê-la quando vir na rua uma mulher que escreva nas paredes: 'Olhos de cão azul'". E ela, com um sorriso triste — que já era um sorriso de entrega ao impossível, ao inatingível —, disse: "Não obstante, você não lembrará nada durante o dia". E voltou a pôr as mãos sobre o abajur, com a expressão obscurecida por uma névoa amarga: "Você é o único homem que, ao acordar, não se lembra nada do que sonhou".


Gabriel García Márquez nasceu em 1928 na pequena cidade de Aracataca, na Colômbia. Cresceu ao lado de seu avô materno, um coronel da guerra civil no princípio do século. Estudou num colégio jesuíta e posteriormente iniciou o curso de Direito, logo abandonado em virtude de seu trabalho como jornalista. Em 1954 foi para Roma, como correspondente do jornal onde escrevia, e desde então tem vivido em cidades como Paris, New York, Barcelona e México, em um exílio mais ou menos compulsório. Apesar de seu talento como ficcionista e premiado escritor, continua exercendo a profissão de jornalista.

Em 1961, recebeu o Prêmio Esso de Literatura Colombiana, em 1971 foi declarado "Doutor Honoris Causa" pela Universidade de Colúmbia, em em Nova York; em 1972, recebeu o Prêmio Rômulo Gallegos. Em 1981, o governo francês concedeu-lhe a condecoração "Légion d'Honneur" (Legião de Honra).

No dia 21 de outubro de 1982 foi agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura, quinze anos depois de ter escrito "Cem Anos de Solidão", seu maior sucesso, traduzido em 35 idiomas e com venda calculada em mais de 30 milhões de exemplares.

Em nossos dias circula pela Internet um texto cuja autoria foi atribuída a García Márquez, um tipo de "carta de despedida", pois estaria o autor prestes a falecer em virtude de um câncer linfático. Segundo a "Crônica do falso adeus" de Orlando Maretti, "Gabriel García Márquez, ou Gabo, para os amigos, ... não apenas negou, pela imprensa, que estivesse em estado terminal como também espinafrou a pieguice do texto e seu autor, identificando-o como um subliterato latino-americano. Em recente entrevista ao jornal espanhol El País, o escritor colombiano lamenta a repercussão do texto."

Orlando Maretti acrescenta: "...a primeira pista para duvidar da autoria é a insistência na citação vocativa de Deus. Pelo que se sabe, García Márquez é um escritor de esquerda, simpatizante do marxismo, amigo de Fidel Castro, militante de causas sociais. Enfim, um humanista engajado, mas nem de longe seu perfil lembra um religioso."

O escritor foi reverenciado na XIII Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro, em 2007.


BIBLIOGRAFIA:


Romances, contos e crônicas:

· Folhas mortas
· Ninguém escreve ao coronel
· Cem anos de solidão
· Doze contos peregrinos
· O general em seu labirinto
· O amor nos tempos do cólera
· A aventura de Miguel Littin clandestino no Chile
· Cheiro de Goiaba: Conversas com Plinio Apuleyo Mendoza
· Como Contar um Conto
· Crônica de uma Morte Anunciada
· Do Amor e Outros Demônios
· O Enterro do Diabo: A Revoada
· Entre Amigos
· Os Funerais da Mamãe Grande
· A Má Hora (o Veneno da Madrugada)
· A Incrível e Triste História da Cândida Erêndira e sua Avó Desalmada
· Olhos de Cão Azul
· O Outono do Patriarca
· Relato de um Náufrago
· Oficina de Roteiro de Gabriel García Márquez: Me Alugo Para Sonhar
· Notícia de um seqüestro
. Viver para contar (memórias)
. Memórias de minhas putas tristes
. Obra jornalística - Vol. 1 - Textos caribenhos
. Obra jornalística - Vol. 2 - Textos andinos.
. Obra jornalística - Vol. 3 - Da Europa e da América, 1955 1960
. Obra jornalística - Vol. 4 - Reportagens políticas
. Obra jornalística - Vol. 5 - Crônicas

Infanto-juvenis:

. A última viagem do navio fantasma
. Maria dos prazeres
. A sesta da terça-feira
. A luz é como a água
. Um senhor muito velho com umas asas enormes
. O verão feliz da senhora Forbes


O texto acima foi publicado no livro de mesmo título e extraído de "Contos Latino Americanos Eternos", Ed. Bom Texto - Rio de Janeiro, 2005, pág. 149, organização e tradução de Alicia Ramal.

Leia o texto. Compre o livro.

Após troca de tiros quatro homens conseguem escapar da polícia em Buritis

http://www.oobservador.com/cidades/not_cid9243,0.html

Por: Cyntia Dias

Quatro bandidos conseguiram escapar da Polícia Militar em Buritis na linha 02 com BR-460 sentido Ariquemes. Eles deixaram para trás uma submetralhadora e uma escopeta calibre 12 de repetição. O fato aconteceu ontem por volta das 2h30 da madrugada. Dois homens em uma moto conseguiram escapar ilesos na troca de tiros com a polícia e os outros dois caíram da motocicleta onde estavam e conseguiram fugir ao se embrenharem no mato.

Pela manhã a Polícia Militar encontrou uma bolsa contendo peças de vestuários, talonário de cheques e capus (mascaras); e uma segunda escopeta calibre 12; totalizando três armas apreendidas. A ocorrência foi registrada na Delegacia de Polícia Civil da Comarca de Buritis. A polícia segue o rastro dos envolvidos.

Taxa de coleta de lixo em Cacoal teve aumento e passará a ser cobrada na conta de água a partir de fevereiro

http://www.oobservador.com/cidades/not_cid9239,0.html

Por: Cyntia Dias

A partir do próximo mês a taxa de coleta de lixo do município de Cacoal que era cobrada no IPTU, será embutida na conta de água. A mudança aconteceu devido a um convênio que está sendo elaborado e será firmado pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) e Secretaria Municipal de Fazenda SEMFAZ.

Assim como outras prefeituras, Cacoal optou também por fazer a cobrança na conta de água. A taxa teve aumento e será paga em 12 vezes e não mais em cota única como acontecia quando era cobrada no IPTU.

Outra inovação é a classificação da taxa. Antes era considerada apenas a condição de imóvel construído. Agora o valor cobrado será de acordo com a condição do imóvel, considerando se o mesmo é residencial, comercial, industrial ou hospitalar.

Réveillon em Ariquemes reúne mais de 30 mil pessoas

http://www.oobservador.com/cidades/not_cid9236,0.html

Por: Cyntia Dias

A população de Ariquemes se reuniu na Avenida Canaã para comemorar a entrada de ano. Foram mais de 30 mil pessoas às ruas festejar o ano novo de 2010.


A festa foi animada pela Banda Total Flex e pelo DJ Raidy que fez a contagem regressiva junto com a multidão.


O prefeito Confúcio Moura e o presidente da Funcel, Nivaldo Vieira compareceram ao evento e festejaram o réveillon junto à população.

Mototaxista participará de comissão junto à Câmara de Vereadores na Capital

http://www.oobservador.com/cidades/not_cid9221,0.html

Por: Cyntia Dias

O mototaxista, Pedro Osvaldo Bezerra Dias, conhecido como “Seu Mazom”, agradece ao vereador Jean de Oliveira e ao assessor de comunicação dos mototáxis Lúcio Miranda por terem pedido uma moção de aplauso em sua homenagem no mesmo dia em que foi votado e aprovado o projeto de regulamentação da profissão mototáxi, em Porto Velho, no último dia 16 de dezembro.

Na mesma ocasião o presidente da Câmara de Vereadores, Hermínio Coelho, indicou o nome do mototáxi Pedro Osvaldo para integrar a comissão que irá selecionar, junto com a Casa de Leis, os mototáxis que serão contemplados com as 574 placas disponibilizadas pela prefeitura.

O mototáxi foi escolhido para receber a homenagem por causa das lutas que travou para ajudar a legalizar a profissão na capital. Pedro Osvaldo agradece especialmente ao presidente da Casa Hermínio, ao vereador Jean de Oliveira, a vereadora Elis, e toda a Câmara de Vereadores.

A escolha do mototáxi foi aprovada inclusive com apoio do presidente do Sindmotos, João Henrique.