segunda-feira, 29 de junho de 2009

Marx e a liberdade de Imprensa

Karl Marx acreditava que poderia haver liberdade de imprensa. Porém, o jornalismo praticado hoje é absolutamente inconciliável com o que pregava Friedrich Engels e Marx. Para Marx (2001, p.18) os defensores da liberdade de imprensa parecem estar realizados sem a existência da liberdade de imprensa. Marx acreditava no poder da imprensa e a defendia de forma apaixonada.

A imprensa livre é o olhar onipotente do povo, a confiança personalizada do povo nele mesmo, o vínculo articulado que une o indivíduo ao Estado e ao mundo, a cultura incorporada que transforma lutas materiais em lutas intelectuais, e idealiza suas formas brutas. É a franca confissão do povo a si mesmo, e sabemos que o poder da confissão é o de redimir. A imprensa livre é o espelho intelectual no qual o povo se vê, e a visão de si mesmo é a primeira condição da sabedoria. É a mente do Estado que pode ser vendida em cada rancho, mais barata que gás natural. É universal, onipresente, onisciente. É o mundo ideal que flui constantemente do real e transborda dele cada vez mais rico e animado. (MARX, 2001, p.65)

Para Marx (2001, p.71) a censura mata o espírito político na medida em que as pessoas são obrigadas a considerar a liberdade como ilegal, o ilegal como livre, e o legal como o não-livre. A liberdade de imprensa apesar de ser algo maravilhoso pode ser usada de forma desastrosa por pessoas mal intencionadas. Essas pessoas fazem uso da linguagem para mentir, a mente para intrigar, as mãos para roubar, os pés para desertar. De acordo com o pensamento marxista seria uma coisa maravilhosa para a escrita e a fala, para os pés e para as mãos, para a boa linguagem, para o pensamento agradável, para as mãos hábeis, para os ainda melhores pés – se não existissem pessoas más que fazem mau uso da liberdade de imprensa.

Um ponto muito discutido por Marx (2001, p.95) diz respeito ao fato da liberdade de imprensa se chocar com a liberdade de Assembléia. Para ele, esse choque é do maior interesse, pois proporciona à própria Assembléia a prova de que, na falta de liberdade de imprensa, todas as outras liberdades são ilusórias. Marx considera que cada faceta da liberdade condiciona todas as outras, como sucede também com cada órgão do corpo. Quando uma liberdade específica é questionada, questiona-se toda a liberdade. Quando uma faceta da liberdade é negada, a própria liberdade é repudiada, e poderá conduzir apenas a uma mera semelhança de vida, pois depois a não-liberdade assumirá o controle como força dominante.

Marx e Engels defendiam a função do jornalismo de criticar a sociedade em geral e de representar os interesses do povo perante o governo. Porém o que Marx não poderia imaginar é que a transição do capitalismo para o socialismo pudesse estar intimamente ligada à redução ou até a extinção das liberdades individuais e de imprensa. (KUNCZIK, 2001, P.116)

Referências

MARX, Karl. A Liberdade de Imprensa/ Karl Marx: tradução de Cláudia Schilling e José Fonseca, Porto Alegre: L&PM Pocket, 2001. 226p.
KUNCZIK, Michael. Conceitos de jornalismo: Norte e sul: Manual de comunicação. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2001.

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